Às quatro horas da tarde da última quinta-feira (14/03/2025), faleceu o agricultor José Ferreira Campos, aos 114 anos de idade, no Hospital Municipal José Pinto Saraiva, em Exu, sertão do Araripe pernambucano. Natural do Crato, no Ceará, ele era conhecido como a pessoa mais longeva da região e por seu temperamento tranquilo e sociável. De acordo com sua família, ele teve 28 filhos e deixa mais de 200 netos e trinetos.
Zé Pequeno, como era conhecido, havia dado entrada no Hospital Municipal José Pinto Saraiva na semana passada com um quadro de infecção urinária. Ele chegou a se curar da doença na unidade de saúde, mas ao receber alta, teve um mal-estar causado por queda de pressão. “O médico pediu para ele continuar no hospital e foi necessário colocar sonda. No fim da tarde, ele fechou os olhos e Deus levou. Não li os documentos, acho que foi a idade”, conta o professor Ronaldo Ferreira, um dos 28 filhos que Zé Pequeno teve.
Ronaldo ainda não sabe a causa da morte, mas consegue elencar as muitas causas da vida longeva que o pai teve. “Uma coisa que associo muito a ele é a vontade de viver. Trabalhou como agricultor até os 99 anos de idade e parou porque a gente não deixou mais. Ele ficava lá e a gente precisava levar café, almoço, tudo”, lembra. Um dia, voltando da roça, Zé Pequeno caiu e acabou cortando a cabeça. “A gente não deixou mais ele ir trabalhar. Acho que foi o momento mais difícil da vida dele”, diz Ronaldo.
O filho garante que, além dos remédios para a pressão, o pai não fazia uso de remédios de rotina nem tinha doenças crônicas. “Ele não comia comida requentada, nem carne que tivesse sido congelada. Também não comeu, durante sua vida, alimentos industrializados. Nos últimos anos, ele começou a gostar de picolé e pipoca, que a gente colocava em uma bacia para ele poder movimentar as mãos e essa era a fisioterapia dele”, lembra o filho.
Um ano mais velho do que seu conterrâneo mais célebre, o exuense Luiz Gonzaga, nascido no dia 13 de dezembro de 1912, Zé Pequeno atravessou o início da República Brasileira, dois golpes militares e o nascimento da democracia. Nesse período, o mundo vivenciou duas guerras mundiais, 26 jogos olímpicos e conheceu dez diferentes papas. “Ele gostava de saber das coisas, se sentia vivo. Gostava de ouvir rádio, mas não gostava de televisão, brigava quando a gente assistia. Dizia que não era coisa de Deus não”, relata Ronaldo.
Católico, Zé Pequeno rezava dois terços por dia e era devoto de Padre Cícero. Ao Padim, a população da região atribui a cultura das Festas de Renovação, cerimônias católicas realizadas nas casas dos fiéis, com reza, confraternização e uma refeição farta com a comunidade. “Meu pai fazia aniversário no dia três de janeiro, Dia do Sagrado Coração de Jesus e de renovação. Ele adorava gente, festa e sempre tomava um vinhozinho”, comenta Ronaldo.
Por enquanto, o vinho de Zé Pequeno segue na geladeira da família e Ronaldo ainda fala dos hábitos do pai conjugando quase todos os verbos no presente. Referência no distrito de Viração, onde mora a família, o simpático senhorzinho era querido por todos. “Ele era muito grato. Se alguém fizesse uma coisa boa para ele, podia só fazer o mal depois, que ele era grato. Só via o lado bom das coisas”, emociona-se o filho.
Com a porta sempre aberta, Zé Pequeno recebia visitas de amigos e admiradores, que vez por outra apareciam para conversar ou tirar fotos. “Ele deixa para a gente seu nome, era muito respeitado por aqui. A gente é pobre e ele sempre trabalhou com humildade. O que levo dele é a gratidão pela vida e a vontade de viver”, completa Ronaldo.
Fonte: Diário de Pernambuco